terça-feira, 21 de julho de 2015

Como desenvolver a autoestima nas crianças?

Como desenvolver a autoestima nas crianças?


A autoestima é um conceito individual que se constrói ao longo de uma vida. Em tenra idade os pais e educadores têm um papel fundamental na regulação e promoção da autoestima nas crianças. Para o bem e para o mal, aquilo que vamos dizendo, ou não vamos dizendo, a forma com reforçamos a criança e o que vamos associando ao valor pessoal que expressamos reconhecer na criança, certamente influencia a construção da autoestima dela. Uma boa autoestima é essencial para o desenvolvimento das crianças. É o alicerce de tudo o que fazem, de tudo o que elas são. Podemos afirmar que é o alicerce do seu futuro.
Ouça, aceite, discipline e estabeleça limites no comportamento da criança para contribuir para a construção de uma boa autoestima. Permita à criança ter decisões independentes para que possa desenvolver uma autoestima positiva. As crianças precisam da aceitação dos adultos, a fim de desenvolverem uma autoestima positiva. Toda a criança procura afeto, aprovação e reconhecimento junto dos seus educadores e pessoas significativas. Quando algum destes elementos lhe é barrado, a criança sofre com isso, coloca-se em causa, pode sentir-se desadequada no meio onde se movimenta afetando-lhe negativamente a autoestima.
A autoestima é construída pelo elogio realista. As crianças sabem quando o elogio não é realista. Ajudar a sua criança a crescer com uma forte autoestima é uma das coisas mais importantes que você pode fazer como pai ou educador. Você é a principal influência sobre a forma como a criança se sente relativamente a ela e à sua autoestima. As crianças são um espelho dos seus modelos.
É imperativo que a criança se sinta amada, apoiada e aceite para edificar uma autoestima sustentada. As crianças com a autoestima elevada percepcionam-se capazes de enfrentar os seus desafios, propõe-se à realização das tarefas propostas e resistem melhor à frustração.

O QUE É A AUTOESTIMA?

A autoestima é o conjunto de crenças e sentimentos que temos sobre nós mesmos, são as nossas “auto-percepções.” A forma como nos definimos influencia as nossas motivações, atitudes e comportamentos, afetando ainda o nosso equilíbrio emocional. A construção dos padrões de autoestima começa muito cedo na vida. Por exemplo, uma criança que atinge um objetivo pretendido experimenta um sentimento de realização que reforça a autoestima.
Aprender a caminhar depois de dezenas de tentativas frustradas ensina um bebé a ter uma atitude de “consigo fazer”. O conceito de persistência para alcançar o sucesso começa cedo. As crianças tentam, falham, tentam de novo, falham de novo, e então finalmente obtêm sucesso, desenvolvendo uma ideia positiva acerca das suas próprias capacidades. Ao mesmo tempo, vão criando um autoconceito baseado em interações com as outras pessoas. É por isso que o envolvimento dos pais e cuidadores é fundamental para ajudar as crianças a construírem autopercepções saudáveis.
A autoestima também pode ser definida como um sentimento de capacidade, combinado com sentimentos de ser-se amado. Uma criança que fica feliz com uma conquista, mas não se sente amado pode, eventualmente, experimentar baixaautoestima. Da mesma forma, uma criança que se sente amada, mas está hesitante sobre a sua ou as suas próprias capacidades pode também conduzi-la a uma baixa autoestima. A auto-estima saudável de uma criança desenvolve-se quando o equilíbrio é atingido.

PROMOVA O DESENVOLVIMENTO DE UMA BOA AUTOESTIMA ACEITANDO A CRIANÇA

Aceitar a sua criança, não propriamente todos os seus comportamentos, ou seja, numa situação em que a criança faz algo que não deveria ou que o adulto desaprova, deve referir que não gostou do seu comportamento, ao invés de dizer que não gosta dela. Este tipo de abordagem permite que a criança também se aceite a ela mesmo, consiga fazer uma distinção entre aquilo que ela é e a forma como age. Este é o fundamento da autoestima. Aceitar a criança sem mudá-lo enquanto individualidade que é, mas sim ir adequando, regulado e monitorizando os seus comportamentos e atitudes. Faça a sua criança sentir-se valorizada no sentido de que se fizer algo de errado, não fique com a sua individualidade ferida, dando-lhe a oportunidade de ela perceber que pode agir de outra forma. A sua autoestima fica intacta, e promove a aprendizagem de comportamentos positivos e atitudes positivas. Valide a experiência da sua criança para que ele/ela se sinta entendido como uma pessoa digna, mesmo quando o comportamento está sendo corrigido.
Use as palavras “decidir” e “escolha” muitas vezes. Saliente as consequências das escolhas. Esclareça que ela tem a possibilidade de decidir de forma diferente numa próxima oportunidade.
Dica: Desaprove o comportamento, não a criança.
A crítica infligida diretamente à criança reduz a autoestima, ao invés esclarecer a criança acerca das suas possibilidades de escolhas e do controle que ela pode ter e é capaz de expressar nos seus comportamentos, eleva a autoestima. Sempre que salientar à criança que a vida é uma série de escolhas, e que não tem propriamente a ver com ela ser boa ou má criança, certamente estará a prover-lhe umaautoestima positiva. Por exemplo, se lhe passar a mensagem que os seus resultados académicos tem muito mais a ver com as escolhas que ela faz, do que propriamente com as capacidades dela. Que grande parte das decisões e escolhas são da responsabilidade dela, e se falhar ou errar, pode sempre optar por escolher melhor numa próxima vez.

TRANSMITA A SUA APRECIAÇÃO E ADMIRAÇÃO À CRIANÇA

Um fator importante que contribui para uma criança desenvolver saudavelmente a autoestima é ela sentir que é apreciada por aquilo que faz. Tão importante como ser apreciada pelos seus comportamentos é sentir-se especial. A criança sente-se especial não só quando sentimos orgulho nas suas habilidades, mas sim quando ela percebe que mesmo errando, tendo dificuldades e falhando, o adulto está ao lado dela, acarinhando, incentivando e suportando a sua frustração.
Uma outra forma da criança sentir-se especial e admirada é através das atividades lúdicas conjuntas. Passe a mensagem à criança do género:
“Quando eu leio para ti, falo contigo, ou brinco contigo, eu não atendo o telefone, mesmo se ele tocar.”
Não quero ser taxativo, e tão pouco dizer que você deve passar esta mensagem textualmente, não, não é isso. Mas, é importante que a criança perceba que existem momentos que são destinados apenas a ela, e que ela é nesse período o centro de todas as atenções. Durante estes tempos especiais, concentre-se em coisas que a criança gosta de fazer, dando-lhes a oportunidade de relaxar e exibir os seus pontos fortes, mas igualmente sentir-se apoiada e confiante para poder falhar.

PROMOVA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E TOMADA DE DECISÃO NA CRIANÇA

A autoestima elevada caminha de mãos dadas com a habilidade para resolver problemas. Promova a reflexão na criança sobre possíveis soluções. Tente simular algumas possíveis situações com a criança para ajudar a demonstrar as etapas envolvidas na resolução de problemas. Se a criança lhe colocar questões acerca do que deve fazer, se pode fazer, ou como pode fazer, relembre-a que ela já tem capacidade para pensar acerca do assunto. Devolva-lhe a pergunta, questionando-a:
§ O que tu queres ou pretende fazer?
§ Porque queres fazer isso?
§ Como achas que podes fazer isso?
É importante que a criança perceba que tem a confiança do adulto para poder tomar decisões, e que tem igualmente capacidade (dentro das suas aprendizagens e respetiva idade) para pensar acerca das coisas.

EVITE COMENTÁRIO CRÍTICOS, SEJA POSITIVO COM A CRIANÇA

Ao dizer à criança:
“Tenta com mais esforço, não estás a dar o teu máximo.”
Ainda que possa parecer uma forma de incentivo, lembre-se que está a lidar com uma criança. Uma coisa é explicar-lhe com tempo e com exemplos o valor do esforço e da dedicação para potenciar a obtenção de resultados. Outra coisa, e esta parecerá à criança como algo acusatório, é dizer-lhe para se esforçar mais, ou que desiste logo. Através de frases tipo catálogo a criança não aprende de forma positiva.
Se a criança seguir a mensagem transmitida e ainda assim não conseguir melhorar, certamente irá ficar a pensar que o problema está nela, que ela não tem capacidade, porque apesar do esforço não foi capaz. Perante este cenário a autoestima sofre um terrível abalo. Como muitas vezes a criança esforça-se e continua com dificuldades, nesse caso, tente a seguinte abordagem:
Diga algo do género: Temos de descobrir melhores formas para que possas aprender a fazer melhor”
A criança não irá sentir-se acusada nem ficar numa posição defensiva. Isto também reforça a resolução de problemas e promove as habilidades.
Para aprofundar o assunto, leia: 3 Armadilhas na comunicação com o seu filho

SEJA EMPÁTICO COM A CRIANÇA

Perante alguns cenários de dificuldades nas tarefas escolares, ou nas atividades do dia-a-dia por parte da criança, quanto o tempo é pouco e a paciência se esgosta, o adulto pode incorrer em discursos perniciosos. Algumas vezes, mesmo sendo bem-intencionado, perante a sua frustração pode dizer:
“Porque não me escutas?” ou “Estou farto de te dizer como se faz” ou “Porque não usas o cérebro?” ou “é sempre a mesma porcaria, só fazes asneiras”
Se a criança está tendo dificuldade com o aprendizado, seja empático, dizendo à criança que você sabe que ela está tendo dificuldades. Aceite a dificuldade da criança, e conduza-a calmamente a pensar sobre as soluções possíveis ou outras formas de se comportar ou realizar algo.

APRESENTE ALTERNATIVAS À CRIANÇA

Esta abordagem pode evitar muitas dores de cabeça e conflitos. Por exemplo, pergunte à criança se ela gostaria de ser lembrada cinco ou dez minutos antes de dormir para ir para a cama. Essas opções ajudam a definir a base para um sentimento de controle sobre a própria vida. Ou se ela incorreu em algum comportamento que você desaprova, encontre uma alternativa e peça-lhe para fazê-lo de imediato. As crianças são ótimas a representar e certamente irão entrar nesse jogo comportamental.
Exemplo: A criança entrou na sala, pegou no comando da TV e sem perguntar mudou para um canal da sua preferência. Perante tal atitude, peça-lhe para sair da sala, voltar a entrar, mas desta vez perguntando se pode mudar de canal de TV.
De uma forma assertiva, sem reclamações, repreendas verbais ou grandes conflitos, indicou-lhe a forma de como pretende que ela se comporte numa próxima vez. Adicionou-lhe ainda uma vantagem, que foi praticar e ser bem sucedida.

DESTAQUE OS PONTOS FORTES DA CRIANÇA

Em determinadas alturas as crianças podem olhar para si mesmas de forma negativa, especialmente na escola. Liste as áreas em que a criança tem aptidão, habilidades e executa bem. Selecione uma força, reforçe isso e promova a sua prática. Atenção, não reforçe deliberadamente e de forma intensiva a inteligência da criança, o seu amor por ela ou o quão extraordinária ela é associando isso ao seu desempenho ou genialidade em algo.
O amor é incondicional e associá-lo a resultados ou a desempenhos ou a características da criança, pode vir a comprovar-se como desastroso. Não faça isso. Associe o reforço das habilidades e do bom desempenho ao comportamento, reforce o comportamento da criança e não necessariamente o quão extraordinária ela é.
O adequado: “Que lindo que está, conseguiste fazer as orelhas do cão perfeitinhas, tens um traço forte e preciso, entretanto conseguirás desenhar melhor as patas.”
O desadequado: “Que lindo está, está maravilhoso, tão inteligente, sais ao teu pai. Tenho o melhor filho do mundo.”

PROMOVA OPORTUNIDADES PARA A CRIANÇA EXPRESSAR AJUDA

As crianças gostam de ajudar os outros. Ao oferecer-lhe oportunidades para ajudar, isso irá fazer com que sinta que tem algo a oferecer ao mundo. Envolver a criança na prestação de ajuda é uma ótima maneira de fazê-la sentir-se bem sobre si mesma e relativamente aos outros. Vai aumentar a sua autoestima.

ELOGIE A CRIANÇA, NÃO DE FORMA GRATUITA, MAS SUPORTADA POR FATOS

Elogiar a criança permite transmitir-lhe a mensagem que você a aceita e a aprecia. A criança aprende a reconhecer e a valorizar os seus próprios esforços e talentos. No entanto, elogie apenas quando existe um motivo que justifique, se seja ligado às circunstâncias e que permita à criança perceber o porquê de tal elogio. Elogie de preferência os esforços, as atitudes, as ações. Por exemplo: o empenho, a dedicação, alguns valores que ele possa expressar, como a amizade, solidariedade, empatia, simpatia, entre-ajuda, entre outros.

COMPORTAMENTOS QUE PROMOVEM A AUTOESTIMA

A seguir, apresento alguns comportamentos que ajudam a construir uma forte autoestima:
§ Sorrisos
§ Abraços
§ Toque
§ Aceitação
§ Tempo de qualidade
§ Escuta
§ Ser solidário
§ Cooperação
§ Atitudes ausentes de crítica destrutiva
§ Atribuir responsabilidades

CONCLUINDO

Há muitas maneiras de você conseguir ajudar a construir a autoestima na criança. Mas, a que suporta todas as outras e a mais importante é demonstrar o seu amor por ela numa base constante. Apresento algumas notas finais. Dê elogios ou reforços do tipo:
§ João, você é bom a. . . .
§ Margarida, eu gosto do jeito que você. . . .
§ Pedro, você é especial para mim porque. . . .
Esclareça ainda a criança que é normal falhar em algumas coisas, ou até mesmo não gostar de algumas coisas nela própria. Saliente que, só porque não gosta de alguma coisa nela mesma, que não a torna menos maravilhosa, ou menos simpática, ou com menos valor que os outros colegas.
Abraço

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